Quando a Saúde Adoece os que Cuidam
- Sandro Azevedo
- 28 de set.
- 3 min de leitura
Atualizado: há 5 dias

No Brasil, falar de saúde virou sinônimo de estatísticas, protocolos e metas. Mas pouco se fala do preço pago por aqueles que sustentam esse sistema: os profissionais de saúde. Médicos, enfermeiros, técnicos, fisioterapeutas, entre tantos outros, vivem diariamente no limiar entre salvar vidas e perder a própria. O que se normalizou como “vocação” esconde uma verdade brutal: o ambiente de trabalho na saúde adoece.
Carga horária extenuante, baixos salários, acúmulo de vínculos, plantões de 24 horas, pressão emocional constante, violência dos pacientes e até da própria gestão — tudo isso se combina em um coquetel tóxico que gera burnout, depressão, ansiedade, doenças musculoesqueléticas e até suicídio. E, ainda assim, o discurso oficial insiste em romantizar o sofrimento: “ser da saúde é um chamado, um dom”. Será mesmo? Ou é apenas uma forma conveniente de transformar o sacrifício humano em combustível barato para sustentar um sistema público sucateado e um setor privado que lucra bilhões?
É polêmico, mas é real: o Brasil naturalizou a ideia de que quem cuida não precisa ser cuidado. É quase como se o adoecimento dos profissionais de saúde fosse um “dano colateral aceitável”. Quando o médico se mata por exaustão, quando a enfermeira colapsa em plena jornada, quando o técnico desmaia no plantão por falta de repouso, a reação social é sempre a mesma: palmas, homenagens póstumas e nenhuma mudança estrutural.
Enquanto não encararmos essa ferida aberta, continuaremos a construir um sistema que consome seus trabalhadores até o esgotamento. A saúde, que deveria ser espaço de cura, tornou-se um dos principais focos de doença ocupacional do país. E a pergunta incômoda permanece: até quando o Brasil vai tratar seus profissionais de saúde como peças descartáveis em vez de reconhecê-los como seres humanos que também precisam de proteção, dignidade e vida? Há lacuna de dados longitudinais, ou seja, muito pouco se sabe sobre as trajetórias de adoecimento ao longo do tempo, quanto rotacionam entre estar saudável, adoecendo, recuperado ou cronicamente adoecido.Também é preocupante a baixa taxa de denúncia formal de assédio ou de adoecimento psíquico, tanto por medo de retaliação como por falta de mecanismos institucionais eficazes.
Este cenário expõe uma contradição estrutural: o país depende desses trabalhadores para sustentar o sistema de saúde, mas não garante condições dignas de proteção física, psíquica e social. Apesar de avanços normativos, como a exigência de avaliação de riscos psicossociais e a entrada em vigor do CID-11 reconhecendo o burnout como doença ocupacional, a realidade ainda é de precarização, sobrecarga e invisibilidade.
Em síntese, o Brasil vive um paradoxo cruel: os que cuidam estão sendo destruídos pelo próprio trabalho. O risco não é apenas individual, mas coletivo. Se a saúde adoece seus profissionais, o cuidado à população também se fragiliza. É um ciclo que ameaça não só vidas individuais, mas a própria sustentabilidade do sistema de saúde. O cenário atual do adoecimento entre profissionais de saúde no Brasil é alarmante e revela uma crise silenciosa que atravessa hospitais, clínicas e unidades de atenção básica em todas as regiões. Os números mostram que a saúde, paradoxalmente, tornou-se um dos setores que mais adoece seus trabalhadores.
Na contramão desta realidade, o Brasil insiste em tratar seus profissionais de saúde como peças descartáveis. Naturaliza-se o colapso físico e psicológico como se fosse preço inevitável da dedicação, enquanto vidas se apagam em silêncio. Mas a consequência é mais ampla: quando quem cuida adoece, toda a sociedade perde. O cuidado oferecido à população fica fragilizado, a qualidade da assistência cai e a sustentabilidade do sistema de saúde é comprometida. Portanto, a reflexão que se impõe é urgente e polêmica: até quando aceitaremos que salvar vidas custe a destruição de quem salva? O futuro da saúde no Brasil depende de romper com a lógica do sacrifício e assumir, de forma concreta, que cuidar de quem cuida não é privilégio, é necessidade vital para todos.
Sandro de Menezes Azevedo
Presidente/SINTEST-SE
Presidente/ASPROTEST
Diretor de Formação Sindical e Qualificação Profissional/FENATEST
Idealizador/Safenation Brasil
Idealizador/CONGREST/FESP




O profissional da saúde, exaltado como herói em tempos de crise, retorna ao anonimato quando as luzes da emergência se apagam. Ficam as jornadas exaustivas, os baixos salários, a sobrecarga emocional, a violência institucional e a ausência de políticas que sustentem sua integridade física e mental. O resultado? Adoecimento. Depressão, ansiedade, burnout, afastamentos por doenças ocupacionais e, em muitos casos, a desistência precoce da profissão.